sexta-feira, setembro 29, 2006

A GRANDE MURALHA ESTADUNIDENSE



Quando se trata dos Estados Unidos podemos esperar qualquer tipo de coisa. Assim, não é de surpreender a proposta - construir um muro de 1200km na fronteira com o México - que será votada em breve pelo senado estadunidense. Para termos uma idéia, imaginem um muro com arame farpado e acompanhado de valas saindo da capital de São Paulo em linha reta até mais ou menos Vitória, no Espírito Santo. É mais ou menos isso.

Agora imaginem a dinheirama para construir esse brinquedo. E para monitorá-lo? Nem se fala.

Existe um forte argumento lógico contrário ao muro: A maioria dos imigrantes ilegais não cruzam essa fronteira, são aqueles que ficam no país após o vi
sto expirar, diz o senador Edward Kennedy. Para Kennedy a construção do muro é jogar dinheiro fora.





Caro Edward, jogar dinheiro fora? Santa inocência. O senhor podia ser mais sincero dizendo a verdade. Essa é a maneira típica do seu país para transferir dinheiro do governo para setores que apoioam a Casa Branca. Vide a atual Guerra no Iraque. Só para citar um exemplo, a Bechel Group abocanhou 680 milhões de dólares para começar a reconstrução do país. Uma fatia pequena dos estimados 100 bilhões de dólares que serão necessários. Interessante método de levar a democracia para um país: destruir e reconstruir. Agora, com certeza é uma maneira ótima de aquecer uma ecônomia que ia mal das pernas.

Mas, imagino que um muro de 1 milhão e 200 mil metros, patrulhado dia e noite, deverá sair mais barato.


Curiosamente, essa é a maneira que vocês inventaram de passar a imagem de uma nação democrática e, principalmente, de "semear" a democracia pelo mundo. Resta saber se uma democracia pode germinar quando regada a sangue e ódio, impostos goela abaixo. A história sinaliza que essa estratégia não funciona muito bem.



PS. 1 - O fato me lembrou uma música dos Dead Kennedys, "The Great Wall", confirmando que Jello Biafra sempre foi um visionário.

PS. 2 - Ler a notícia publicada pela Folha Online

quinta-feira, setembro 28, 2006

Que país é esse?

Adianto que não sou chegado em Legião Urbana mas, sinceramente, alguém me explica o que é isso:



É O COMEÇO DO FIM!

terça-feira, setembro 26, 2006

Animação

À quoi ça sert l'amour?

Um espetacular desenho de Louis Clichy, com trilha de Michel Emer.

Qualquer semelhança com o mundo real não é mera coincidência!

sábado, setembro 23, 2006

Eleições 2006 - Parte II

Diante do atual (?) cenário político brasileiro e, principalmente, por ter que tolerar um governo que diz que não sabe e nunca viu nada, resolvi usar esse espaço para ser bem objetivo em um ponto(objetivo por enquanto, pode ser que eu me rebusque mais em outro momento).
1. Nessas eleições o mais importante não são os cargos de PRESIDENTE e GOVERNADOR. Em poucas palavras, de nada adianta eleger um chefe de estado supimpa se não daremos a mínima para aqueles que irão de fato nos representar na hora em que os projetos, leis, medidas etc serão colocados em pauta. Portanto, temos que aprender a dar atenção aos cargos de Deputado (estaduais e federais), Senador e Vereador (que não é o caso dessa eleição). Desses sim, podemos cobrar com muito mais facilidade e, inclusive monitorar e fiscalizar. Nesse sentido cito algumas ferramentas muito boas

TRANSPARÊNCIA BRASIL

Uma ONG que apresenta o perfil completo (por exemplo, gastos com campanha, declaração de bens, número do CPF) dos canditados a Deputado. O ponto mais interessante é a possibilidade de avaliar o que o candidato já fez (quando se tratar de reeleição) e principalmente a situação do mesmo perante a justiça.

UOL Eleições

Uma página bastante informativa e esclarecedora a respeito de diversas questões acerca do processo eleitoral e com notícias diárias sobre os candidatos e a atual crise política no país
Acho que partindo desses dois sítios muita coisa fica mais clara para o dia do primeiro turno.

Políticos do Brasil
Na mesma linha da ONG Transparência Brasil, mas traz dados de praticamente TODOS os políticos do Brasil. Vale a pena consultar antes de votar.
Um dado muito relevante é o número do CPF dos candidatos. Com ele podemos checar sua situação fiscal, por exemplo.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Mi hermano

Segue um texto excelente, vencedor do prêmio Faroni de Relato Hiperbreve 2002 , indicado pelo Marcio Uehara Prado.

Por Rafael Novoa, Mi hermano:

Nunca le perdoné a mi hermano gemelo que me abandonara durante siete minutos en la barriga de mamá, y me dejara allí, solo, aterrorizado en la oscuridad, flotando como un astronauta en aquel líquido viscoso, y oyendo al otro lado cómo a él se lo comían a besos. Fueron los siete minutos más largos de mi vida, y los que a la postre determinarían que mi hermano fuera el primogénito y el favorito de mamá.

Desde entonces salía antes que Pablo de todos los sitios: de la habitación, de casa, del colegio, de misa, del cine ... aunque ello me costara el final de la película. Un día me distraje y mi hermano salió antes que yo a la calle, y mientras me miraba con aquella sonrisa adorable, un coche se lo llevó por delante. Recuerdo que mi madre, al oír el golpe, salió de la casa y pasó ante mí corriendo gritando mi nombre, con los brazos extendidos hacia el cadáver de mi hermano.

Yo nunca la saqué del error.


MEU IRMÃO

Nunca perdoei meu irmão gêmeo, que me abandonou durante sete minutos na barriga de mamãe e me deixou ali, sozinho, aterrorizado na escuridão, flutuando como um astronauta naquele líquido viscoso, enquanto ouvia como o cobriam de beijos do outro lado. Foram os sete minutos mais longos da minha vida, e os que posteriormente determinariam que meu irmão fosse o primogênito, e o preferido de mamãe.

Desde então saía antes de Pablo de todos os lugares: do quarto, de casa, do colégio, da missa, do cinema... ainda que isso me custasse o fim do filme. Um dia me distraí, meu irmão saiu para a rua antes de mim, e enquanto me olhava com aquele sorriso adorável um carro o atropelou. Lembro que minha mãe, ao ouvir o golpe, saiu de casa e passou por mim gritando meu nome, com os braços estendidos para o cadáver de meu irmão.

Eu nunca lhe disse a verdade.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Duas semanas para confirmar

Pois é, em breve iremos às urnas apertar aquele botão verde e resolver todos os nossos problemas nos próximos quatro anos, não é? Bom, alguns irão apertar o botão branco e outros digitarão algo como 666 e apertarão confirmar. Aliás, me expliquem para que serve o voto nulo, ou melhor, qual a diferença entre o voto nulo e o voto em branco? Diferente do que muitos pensam (ou pensavam, como eu) mesmo que 99,9999% dos votos fossem nulos, haveria mesmo assim um candidato eleito. Isso significa que bastaria o canditato votar em si próprio para vencer. Portanto, na nossa democracia não há espaço legítimo para se dizer NÃO (pelo menos na hora do voto). No máximo podemos dizer, "eu passo a vez".
Mas é interessante que mesmo não havendo a menor diferença entre apertar o branco ou escrever 666 e confirmar, as duas categorias existem. Alguns poderiam dizer que tecnicamente a categoria NULO não existe, afinal não existe um botão ANULAR. Mas, se eu posso escrever 007 e confirmar, então meu voto foi anulado e, queiram ou não, ele existe.
Encarando pelo lado conceitual e sonoro desses adjetivos dados ao voto (BRANCO e NULO) me ocorreu que socialmente quem vota em branco seria um bundão, um alienado, um preguiçoso; ao passo que aquele que anula o voto seria um revolucionário. Se nos remetermos à época das cédulas de votação isso fica mais claro: ao deixar sua cédula em branco o cidadão dizia "pra mim tanto faz" (abrindo margem até para que alguém da mesa de conferencia marcasse um X no nome do seu candidato favorito), enquanto que o cidadão que rasurava a célula, homenageando a mãe que pariu aqueles engravatados que são pegos com dinheiro na cueca, esses sim, tinham atitude em dizer "vão pra PQP". Enfim, ao menos socialmente, nas mesas de bar, nos diretórios acadêmicos, era assim. Bom, isso talvez seja um eco do passado.
Parece que nos primórdios da democracia brasileira, se houvesse maioria de votos anulados o candidato não poderia assumir, mas depois da Constituição de 88 isso mudou (para maiores informações sobre essa questão eu sugiro que vocês consultem páginas como a do TSE ou usem o Google).

Bom, nada resolvido dia 01-10 elas estarão lá, a opção Branco e a opção de anular o voto. De qualquer forma, tanto faz. Eu acho que a opção de anular deveria ser extinguida. Fácil! Se alguém errar de propósito o número do candidato apareceria uma tela azul com os dizeres:

ERRO FATAL, FAVOR REINICIAR A URNA ELETRÔNICA.

Afinal, no Brasil, votar é obrigatório.

sábado, setembro 02, 2006

De volta com uma história

Sim, já sei que faz muito tempo que não escrevo. Bom, para os que estavam com saudade - Miltão, Marcio e cia - tentarei tirar isso aqui das traças.

Aqueles que lembram do saudoso "Perde Filho da Puta" (um blog que era feito por quatro rapazes geniais) irão se identificar com o texto. Boa sorte e abraços!


Fulano era um cara desgraçado, ao menos era assim que pintava seu auto-retrato todos os dias. Sempre sozinho, solitário. Cultivava relacionamentos intensos, mas breves. Com ele era assim: dormir acompanhado, acordar sozinho.
Cometeu o maior erro de sua vida fazendo aquilo que julgou ser a coisa mais acertada de todas. Decidiu usar seu super-trunfo, guardado na manga por décadas, no auge dos 40 e poucos anos. Abandonou todo o racionalismo que, de maneira brilhante, mas atrasada, percebera ser o motivo de todo seu sofrimento - a solidão. Fascinado pelos grandes filósofos o primeiro passo foi jogar pela janela de seu apartamento aqueles que eram seus livros de cabeceira. Naquele dia Kant, Descartes e Leibniz aprenderam a voar. No fundo da gaveta, buscou a velha agenda de telefones e, decidido a seguir em busca daquilo que outrora considerara apenas moinhos de vento, ligou para ela. Dessa vez não iria convidá-la para mais um café em sua livraria predileta onde discutiriam os devaneios de Nietzsche. Não, daquela vez seria diferente. Iria olhar no fundo de seus olhos castanhos, pegar em suas mãos delicadas e dizer o quanto a admirava. Sem ensaio, sem escolher as palavras certas - usaria as que aparecessem na hora - mesmo que isso fizesse Keats pular do túmulo.

Do outro lado da linha, uma voz atendeu:

- Alô?

- Olá, por favor, gostaria de falar com a Fulana. Ela se encontra?

- Quem é?

- Ah, aqui quem fala é Fulano. Sou amigo dela.

- Papai, tem um amigo da mamãe no telefone...

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Com calma olhou para o telefone e com tristeza repousou o gancho. Olhou para a janela, aquela que a pouco havia cuspido seus mestres. Ironicamente, ela nunca lhe parecera tão grande. Pior, parecia que estava sorrindo para ele. Um sorriso debochado.

E então desceu na tentativa de resgatar aqueles que agora, certamente, eram os únicos que tocariam seu coração.