sábado, setembro 02, 2006

De volta com uma história

Sim, já sei que faz muito tempo que não escrevo. Bom, para os que estavam com saudade - Miltão, Marcio e cia - tentarei tirar isso aqui das traças.

Aqueles que lembram do saudoso "Perde Filho da Puta" (um blog que era feito por quatro rapazes geniais) irão se identificar com o texto. Boa sorte e abraços!


Fulano era um cara desgraçado, ao menos era assim que pintava seu auto-retrato todos os dias. Sempre sozinho, solitário. Cultivava relacionamentos intensos, mas breves. Com ele era assim: dormir acompanhado, acordar sozinho.
Cometeu o maior erro de sua vida fazendo aquilo que julgou ser a coisa mais acertada de todas. Decidiu usar seu super-trunfo, guardado na manga por décadas, no auge dos 40 e poucos anos. Abandonou todo o racionalismo que, de maneira brilhante, mas atrasada, percebera ser o motivo de todo seu sofrimento - a solidão. Fascinado pelos grandes filósofos o primeiro passo foi jogar pela janela de seu apartamento aqueles que eram seus livros de cabeceira. Naquele dia Kant, Descartes e Leibniz aprenderam a voar. No fundo da gaveta, buscou a velha agenda de telefones e, decidido a seguir em busca daquilo que outrora considerara apenas moinhos de vento, ligou para ela. Dessa vez não iria convidá-la para mais um café em sua livraria predileta onde discutiriam os devaneios de Nietzsche. Não, daquela vez seria diferente. Iria olhar no fundo de seus olhos castanhos, pegar em suas mãos delicadas e dizer o quanto a admirava. Sem ensaio, sem escolher as palavras certas - usaria as que aparecessem na hora - mesmo que isso fizesse Keats pular do túmulo.

Do outro lado da linha, uma voz atendeu:

- Alô?

- Olá, por favor, gostaria de falar com a Fulana. Ela se encontra?

- Quem é?

- Ah, aqui quem fala é Fulano. Sou amigo dela.

- Papai, tem um amigo da mamãe no telefone...

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Com calma olhou para o telefone e com tristeza repousou o gancho. Olhou para a janela, aquela que a pouco havia cuspido seus mestres. Ironicamente, ela nunca lhe parecera tão grande. Pior, parecia que estava sorrindo para ele. Um sorriso debochado.

E então desceu na tentativa de resgatar aqueles que agora, certamente, eram os únicos que tocariam seu coração.

3 comentários:

Anônimo disse...

úia, rapá! mto bom o texto!
saudades do perde : )
abs!

madamefeia disse...

Uau. Ótimo. E que bom saber notícias suas, estava esperando uma manifestação via blog, menino do lab! Tudo bem contigo?

Anônimo disse...

Por@#% meu!!! vc não pode parar tanto tempo assim cara ...
Parabéns meu ! ,,, dei uma viajada show de bola agora junto com o texto... tu é bom pacas.
abração!